Projetos de restauração trazem benefícios que vão além do plantio de árvores. Na Biomas, nossas iniciativas têm como metas o restabelecimento dos serviços ecossistêmicos em prol da biodiversidade, do clima e das pessoas. Do ponto de vista social, isso significa contribuir para o bem-estar e o fortalecimento das comunidades, promover o acesso a serviços e gerar oportunidades.
Para nós, restaurar ecossistemas é também restaurar vínculos, construir confiança e fortalecer a autonomia dos territórios. Por isso, nossos projetos vão além dos critérios exigidos por certificações de créditos de carbono de alta qualidade: eles incorporam as expectativas e necessidades locais — inclusive aquelas não diretamente relacionadas ao negócio — como parte fundamental da construção de valor, permanência e impacto.
Nina Fassarella, nossa gerente social, esclarece que o âmbito humano é central na visão da Biomas e permeia todas as etapas. Cada projeto oferece oportunidades únicas para transformar a restauração em um ativo para todos. Entendemos que o sucesso das iniciativas e a perpetuação da saúde das florestas só são garantidos se houver compreensão das conexões e interdependências entre as pessoas e os territórios.
Para que nossa atuação junto às comunidades seja robusta e adequada a esses objetivos, temos uma área dedicada à gestão do componente social, com equipe própria e consultoria especializada. Isso inclui a presença permanente de analistas sociais em cada território e o estabelecimento de canais de comunicação claros para garantir acesso direto a eles.
Neste artigo, você vai conhecer como construímos e implantamos nosso relacionamento com as comunidades, buscando por meio do diálogo, desenvolver ações estruturantes para que os resultados se façam sentir por um longo período. O processo é composto por quatro etapas que demandam imersão profunda no território: Conhecer, Consultar, Realizar e Acompanhar.
CONHECER: “Sem entender com quem dialogamos, qualquer solução fica incompleta. Vamos nos conhecer para construir juntos” – Nina Fassarella
Esta etapa tem como ponto de partida um diagnóstico socioeconômico aprofundado, que orienta toda a construção do relacionamento com o território e influencia de forma significativa a imagem que a comunidade irá formar sobre nós e nosso projeto. Muito além da coleta de informações técnicas, o processo busca compreender a lógica social, as formas de organização, os conflitos históricos, os fluxos econômicos, os desejos das comunidades e com quais organizações elas se relacionam.
O trabalho tem início com o levantamento de informações socioeconômicas disponíveis em bases de dados públicas como IBGE e órgãos estatísticos de estados e municípios. Em seguida, visitas, observações e entrevistas presenciais nos ajudam a completar o mapeamento profundo dos grupos sociais, suas organizações, vínculos e contextos.
Ao final do diagnóstico, apresentamos os resultados às comunidades, para que as pessoas se apropriem e validem esses dados, confirmando se as suas colocações foram corretamente compreendidas. Essas “devolutivas” também nos permitem refinar a identificação de lideranças, a compreensão de vínculos e demandas do território. Representam um pedido às comunidades para que elas nos concedam um pouco de seu tempo para conversar sobre sua realidade.
CONSULTAR: “Durante a etapa de consulta, buscamos garantir os direitos das comunidades enquanto entendemos suas realidades, identificamos preocupações e oportunidades e alinhamos suas expectativas” – Nina Fassarella
A segunda etapa é dedicada às consultas diretas, que seguem um protocolo estruturado de escuta para respeitar as especificidades de cada local e construir um planejamento participativo e realista. É um momento em que buscamos compreender o que aquela comunidade almeja e o que espera da presença da Biomas em seu território.
Nosso interesse é conhecer tanto as demandas e necessidades que podem ser conectadas ao projeto, como a contratação de mão de obra local e parcerias para coleta de sementes ou articulação com viveiros comunitários. Podem também ser aquelas que não têm relação com o projeto, como o apoio a cadeias produtivas e a construção ou reforma de estruturas ou equipamentos comunitários.
No Projeto Muçununga, por exemplo, uma das ações em estudo envolve a conclusão da sede de uma associação comunitária. Construído pela própria comunidade com a venda de mandioca, o projeto mostra a força e o desejo de ter um espaço para fortalecer os laços e preservar seus bens coletivos. A falta de um local adequado já teve consequências sérias durante uma enchente, como a perda de 2 mil livros recebidos em doação, que não puderam ser usados para montar uma biblioteca.
“A base para identificar oportunidades nas comunidades é uma escuta aberta. As pessoas nem sempre compartilham seus sonhos, mas ao criar esse espaço, possibilitamos a construção conjunta de soluções que se aproximam do que elas desejam, ou que, de fato, se tornam realizações significativas para o coletivo ” – Nina Fassarella
Da mesma forma que na etapa de diagnóstico, as consultas preveem reuniões e oficinas nas quais as conclusões e encaminhamentos são construídos coletivamente. São encontros para validar as informações coletadas, esclarecer expectativas e escolher os benefícios a serem compartilhados.
O último passo desta etapa envolve as Oficinas para Coconstrução de Projetos e Benefícios Sociais, em que Biomas e comunidades planejam juntas as ações a serem realizadas. Esses encontros são uma forma de reforçar a transparência, o respeito ao que foi dito e os nossos laços com a comunidade.
REALIZAR: “Realizar não é só fazer. É fazer com base no que foi combinado, respeitando os acordos, os ritmos e as pessoas” – Nina Fassarella
Na etapa de realização, as ações acordadas com as comunidades são colocadas em prática. O foco principal é garantir que os compromissos assumidos durante as fases anteriores sejam cumpridos, com respeito aos acordos e sensibilidade ao contexto local. Da mesma forma que as demais, exige cuidado com a comunicação, atenção contínua às relações construídas e flexibilidade para lidar com mudanças.
Essa fase começa após o período de escuta e cocriação de projetos, mas a participação comunitária continua central: permanecemos abertos a ajustes e à identificação de novas demandas. Nossa equipe passa a acompanhar os projetos por meio da execução e das relações no dia a dia, mantendo a prática da escuta.
“Estar no território e realizar significa conviver com aquela comunidade: estar presente de verdade. Também significa estar atento às mudanças que surgem com o início do projeto” – Nina Fassarella
ACOMPANHAR: “O acompanhamento é a continuação da escuta e da construção da confiança com as comunidades” – Nina Fassarella
Para nós, o engajamento com as comunidades não se encerra com a entrega dos benefícios. Queremos acompanhar essas comunidades e esses territórios, registrar os resultados, aprender com eles e verificar se estão sendo verdadeiramente transformadores. Queremos saber se o que foi combinado realmente aconteceu, e se teve desdobramentos. Também queremos que as pessoas vejam que o que foi construído em conjunto está sendo cuidado.
Nesta fase, passamos a utilizar indicadores de resultados, que são métricas estabelecidas para medir o impacto e o sucesso das ações. Escutar as pessoas na escolha dos indicadores também é essencial, pois queremos medir as mudanças que elas consideram mais relevantes. Por isso, essas ferramentas de medição são definidas caso a caso, de forma direcionada às melhorias esperadas para cada território.
Se o benefício for o apoio à implantação de uma de uma unidade de beneficiamento de frutas, por exemplo, a avaliação poderia envolver resultados como aumento da quantidade de frutas beneficiadas, o crescimento da renda familiar, acesso a mercados e a obtenção de certificações de produtos orgânicos ou outras. Cada um desses pontos demanda a utilização de indicadores diferentes.
O fundamental é que as métricas utilizadas sejam capazes de fornecer uma avaliação confiável de que estamos conseguindo apoiar ações realmente transformadoras e de impacto social positivo. Nina explica que “a ideia é que esses indicadores sejam monitorados ao longo do tempo. Isso porque, às vezes, começamos com uma prioridade, mas o cenário muda. Então é um processo contínuo de olhar para os indicadores e atualizar o que for necessário”.
Nossa visão social é parte de uma resposta aos desafios do nosso tempo
Nossos projetos integram o que prevêem os padrões e requisitos dos principais Standards de melhores práticas, permitindo que, por meio de um diálogo estruturado, respeitoso, inclusivo e transparente com as comunidades em nossas áreas de influência, possamos implementar iniciativas sociais sustentáveis como forma de repartição de benefícios.
Isso significa que nossa estratégia de atuação social está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, vinculando as iniciativas desenvolvidas no processo de engajamento das partes interessadas a metas específicas. Assim, é possível monitorar o desempenho de cada iniciativa social, respeitando os resultados do processo participativo e o contexto único de cada território onde atuamos.
O objetivo é desenvolver projetos que garantam benefícios sociais significativos e dignos de crédito em clima, comunidade e biodiversidade, de forma integrada e sustentável, confiantes de que a nossa atividade pode contribuir positivamente para o desenvolvimento econômico, ambiental e social do país.
A própria existência do setor de restauração é uma resposta direta aos desafios globais de sustentabilidade ambiental, especialmente em relação ao clima e à biodiversidade. No entanto, a continuidade e o sucesso dessa resposta dependem também do enfrentamento aos desafios sociais. Para nós, portanto, cada projeto de restauração representa uma oportunidade valiosa de contribuir para esses objetivos mais amplos.